Esta semana, metade de fevereiro, quase carnaval, fui aproveitar o presente de natal que ganhei do meu marido, esposo, companheiro, Gabriel Nunes: uma sessão de spa. Olha que maravilha!
Pois então, sabe o que senti? Culpa. Me senti culpada em ir numa tarde de segunda-feira ao spa que ganhei de presente natal (e que talvez eu já tinha remarcado umas duas vezes? Talvez!).
Algumas pessoas, principalmente homens, não se identificam muito com esse sentimento, mas entender um pouco pode ajudar quem está do seu lado a ter uma vida mais leve. Mas culpa pelo que, não é mesmo?
Então, lá no meio da minha massagem nos pés (spa dos pés, nem sabia que isso existia. Gente, maravilhoso!), com pétalas, sais, essência de alecrim e uma xícara de chá de frutas vermelhas na mão, olhando para o vento batendo nas árvores lá fora, me veio a lembrança de quando estava grávida e a frase que mais escutei foi “Nasce uma mãe, nasce a culpa!”. O ranço que tenho até hoje dessa frase, não sei descrever em palavras.
Depois que a Liz nasceu, amigas ou parentes que eram mães sempre, em algum momento, soltavam essa frase. Na minha primeira sessão de terapia depois do nascimento, uns 30 dias depois, com uma bebê que nasceu numa pandemia que tinha começado a menos de dois meses no Brasil, em depressão pós-parto… uma das pautas da sessão foi sobre se eu estava me sentindo culpada. Essa pauta foi sendo levantada sessão após sessão, e nas demais conversas com outras mães que repetiam: “Nasce uma mãe, nasce a culpa!”.
A minha resposta era sempre: não sei o que é isso, não sinto culpa de nada (me safei pelo menos dessa parte, pensava comigo, já que parecia tão comum com outras mães). Simplesmente eu realmente não sentia culpa. Culpa pelo que?
Não foi ali, no spa, que me veio uma luz e descobri o que era esse sentimento. Isso foi se mostrando cada vez mais evidente, aos poucos, quando deixava a bebê no colo de alguém para eu poder dormir, quando eu me demorava mais no banho porque ali era o único lugar que eu poderia ficar sozinha, quando eu achava que precisava gostar 100% de todas as fases de ser grávida ou da maternidade, quando fiz um desmame gradual porque eu não gostava de amamentar, não fazia mais bem para nós duas, e eu me senti culpada, mesmo tendo dado o meu máximo (e um pouco mais) por dois anos e meio amamentando. A culpa vem gente, e ela não tem dó!
A questão é: a culpa não nasce com a mãe! Talvez seja por isso que eu não goste dessa frase.
Nesse processo de mudança, uma pandemia que mudou a vida de todo mundo de cabeça para baixo, a maternidade, a minha vida profissional, tudo mudou simultâneamente, sem tempo de preparação. Então, eu me perdi! A cabeça e o corpo não aguentaram, mas se mantinham firmes para segurar e cuidar de uma recém nascida, porque a vida é uma caixinha de surpresas, não é mesmo Joseph Climber?
Aos poucos, com ajuda, me achei e continuo me encontrando, agora mais aberta e mais leve de uma forma que nunca fui na vida! Uma das coisas que me ajudou muito foi um curso, um curso chamado Jardim das Delícias. Sim, é um curso sobre sexualidade, me julgue se quiser, mas você deveria fazer também :)
A culpa já veio sorrateira na hora de comprar o bendito do curso, eu já tinha lido sobre ele, acompanhado partes gratuitas e tudo mais. Até que veio a black friday e eu pensei “ok, vamos nessa!”. Depois disso, a culpa sempre vinha bater na porta, não é mesmo querida? Mas eu segui fazendo até o final.
O curso falou sobre muitas questões sexuais, é claro, mas o que ele trouxe também foram muitos questionamentos sobre como, principalmente mulheres (sem abranger aqui toda uma questão ainda maior para outros gêneros que a sociedade diz ser fora do “padrão”. Quem é que dita um padrão? Mas enfim.), que crescem já tendo a culpa moldada, aos poucos, de mansinho, ao ter que se comportar como manda o figurino, sentar direito, brincar ou vestir o que é o “padrão”, casar, ter filhos e aí por diante. A culpa não nasce com a mãe, ela é construída pouco a pouco. Não vejo que seja exclusivo às mulheres, porque muita coisa é imposta também do outro lado. O meu ponto aqui é apenas debater única e exclusivamente sobre a questão de nascer a culpa junto com a mãe, que é onde tenho experiência, infelizmente, para falar.
O Gabriel, meu marido, esposo, companheiro, mencionado no primeiro parágrafo desse texto, que me deu um maravilhoso dia no spa, sempre fez a parte dele como pai desde o início, chegou a dormir sentado na poltrona muitas noites para eu poder deitar na cama; cozinhava com a Liz no sling (hoje vejo as fotos e percebo o quanto isso não deveria ter sido feito, mas a criança sobreviveu, então está tudo certo); enfim, sempre participou ativamente. Mas eu me pergunto: ele sentia culpa ao demorar no banheiro, ao dormir enquanto eu estava de madrugada amamentando, ao ir trabalhar? Sendo que este último, me culpo até hoje, em deixar a criança na escola. Talvez sim, em algumas situações, mas acredito que numa proporção muito menor e isso não é um defeito dele, ou de homens num geral, é um defeito nosso, que cresceu com a gente. Porque sentir culpa em ir numa sessão de spa e cuidar de mim? Que alguém me deu de presente acreditando que eu precisava desse momento.
Acredito que a culpa se intensifique mais com a maternidade, sem dúvidas, tanto que foi só nesse momento que a percebi mais nítida! Mas outra coisa que o curso me trouxe muito forte foi sobre autocuidado, e foi isso que me tirou do lugar onde eu estava perdida. Não é sobre sexo e dar prazer ao outro, é dar prazer à você… tomar um banho demorado à luz de velas de vez em quando, com uma música calma, passar um óleo no corpo, comprar um creme bom para se presentar, perfumar a casa, a cama, ler um livro com uma xícara de chá em meia luz (tudo isso após fazer a criança dormir, obviamente), fazer terapia, achar um tempo para fazer exercício ou alguma atividade mesmo achando que não tem tempo, pedir ajuda, ir ao spa.
Isso funcionou, funciona, para mim, embora eu devesse voltar a incluir mais vezes na minha rotina em ter esse tempo só comigo, porque facilmente as tarefas diárias e o cansaço vão tomando espaço sorrateiramente. Mas não é uma regra, pode não ser para você um ritual assim, funciona o que te descansa, te desliga do mundo, te dá prazer, sem culpa!
Se cuidar e ser você sem culpa, mãe ou não, é um processo contínuo!
Curadoria de links que você pode curtir (ou não)
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🎧 Um podcast do Mamilos, do longínquo tempo de 2019. Por irônia do destino, escutei ele antes de engravidar, nem sabia o que era puerpério, mas ele me ajudou muito.
▶️ A série Workin' Moms. O puerpério? Ah, então toma aqui a volta ao trabalho querida.
🧘🏾 Uma aula de yoga com a Fernanda, porque ninguém é de ferro.
E aqui eu queria aproveitar e abrir espaço para essa discussão, saber a sua opinião sobre o que você entende por culpa, independente do gênero, podemos falar aqui também sobre os rituais ou atividades que auxiliam nesse processo. Então fique à vontade para comentar ou até me mandar um e-mail conversando sobre o assunto, vou adorar trocar ideias! Essa newsletter surgiu para externalizar o que a gente guarda, sem certo ou errado, é um espaço de troca.
Presenteie pessoas com uma sessão de spa e assinem a newsletter desta mãe culpada :)