Começos são difíceis
O manual de dicas do Substack começa dizendo “um cursor piscando em uma página em branco pode ser intimidador”, e realmente é.
Estou procrastinando para começar a escrever, mas querendo fazer isso há muito tempo. Uma das coisas que me bloqueiam de começar é saber usar corretamente as palavras ou ter um vocabulário maior, de palavras diferentes, bonitas e bem colocadas. Um perfeccionismo em começar algo que seja perfeito e uma preocupação tremenda na opinião do outro. Você é assim também? Eu era (sou?), mas a maternidade vem pra te dar uma rasteira e um tapa na cara… tudo está fora do controle e salve-se quem puder.
Diante desse desabafo, vamos lá:
Sempre gostei muito de escrever, quando criança ou adolescente, não sei direito (isso também é um bloqueio pra mim: a memória, não é das melhores), escrevia muitas cartas, muitas mesmo, para minha amigas, até um crush foi alvo uma vez quando mandei por correios uma carta anônima. Por que, não é mesmo? Por que a gente faz essas coisas?… a carta nunca foi respondida, por motivos óbvios, e ainda bem.
Mas, voltando, sou pisciana, o que nos leva para cartas quilométricas e cheias de muita emotividade (descobri que hoje chamam de carta-metro… que só pessoas que não tem boleto pra pagar e computador devem fazer, como eu na época). O que, com o tempo, foi tendo a frequência reduzida, ainda bem… por motivos, nem tanto de internet, porque o e-mail estava aí pra isso, mas porque outras prioridades vão aparecendo e as relações também vão mudando.
Em paralelo a isso, sempre estive dentro do grupo que se destacava nas salas de aula, a boa aluna de média nove e, na graduação não foi diferente, nota dez no TCC. Não faz muito tempo que percebi que eu só estava com o cérebro programado para não falhar, decorar os textos para fazer as provas, ter boas notas para fortalecer meu ego e para não perder a qualificação dentro do grupo de CDFs, adjetivo esse que eu recebia com orgulho, mas hoje nem tanto.
Foi então que percebi que ao acionar o meu modo automático e começar a tentar me identificar como de exatas, parei de colocar meus sentimentos no papel, fui só contadora de profissão e não mais de histórias ou cartas. E isso se refletiu em todos os aspectos da minha vida, profissional e pessoal.
E, como todo começo de ano (embora seja apenas mais um dia, nada demais vai acontecer entre o dia 31 de dezembro e 1º de janeiro… exceto para meus pais que decidiram se casar no dia 31/12 de um longínquo ano), vem aquela sensação de um novo ciclo, um novo começo. Voltou então a mesma vontade que tive no início de 2022: retomar a escrita…
2022 se foi e nem uma linha escrevi. Agora, 31 de janeiro de 2023, me vejo aqui divagando em alguns parágrafos.
Lembrei do início da minha gravidez, quando peguei um caderninho sem pauta, ganhado de brinde de algum lugar, e nele comecei a escrever para o bebê que estava na minha barriga para tentar tirar de dentro de mim aqueles sentimentos estranhos de angústia, medo, felicidade e desespero. Achei esse caderno há poucos dias e é possível identificar nitidamente nos traços e tamanho das letras, que foi escrito com pressa, pressa de tirar os pensamento do papel, pressa de ir logo fazer alguma outra tarefa mecânica do dia.
E ao ler, com calma, eu ali conversando com um bebê, um feto, sem saber o nome ou gênero… dei muitas risadas, revivi muitos sentimentos e memórias, o que me fez ter vontade de sentar e começar a escrever esse texto, começar a externalizar.
Falar mais sobre ciclos, carreira, maternidade, infância, educação. Verbalizar e discutir assuntos que tenho vivido e estudado, mas que ficam apenas na discussão eterna que tenho com a minha consciência.
Embora começos sejam difíceis, pretendo continuar aqui escrevendo (quando? não sei), porque tenho aprendido e questionado muitas coisas que me fazem ter vontade de voltar a ser contadora, mas não de números, porque esse ciclo já passou e muitos ainda virão.
Eu estou adorando ler. Parabéns.