Conversa com especialista: falando em puerpério
O quadro da news no estilo Lady Night (tá, essa parte é brincadeira).
A Dra. Danielle Betina é ginecologista e obstetra, mãe da fofíssima Martina, entusiasta da saúde feminina e uma profissional maravilhosa quando se fala em assistência humanizada ao nascimento. Ela tem sido voz sobre a vida real materna e tudo que envolve o feminino, lá no Instagram. Foi nela que pensei, de forma quase que automática, para falar um pouco sobre o puerpério e o feminino.
Um tema que tem sido pauta de conversas, textos, livros e até mesmo dentro das consultas de rotina, mas que antes pouco se falava. A mulher na maioria das vezes não compreendia o que acontecia com ela, o foco nos cuidados eram todos direcionados ao bebê, uma época em que as pessoas ao redor sequer sabiam que existia a palavra puerpério e muito menos prestava-se o auxílio que a mãe precisa nesse momento.
Mas o que é esse tal de puerpério?
Você já deve ter escutado falar: “ela está no resguardo, não pode fazer esforço.. não pode lavar o cabelo” (por favor, lavem o cabelo!)… É mais ou menos esse período aí. São os primeiros quarenta dias após o nascimento do bebê, bem grosseiramente falando, e algumas literaturas também estendem essa definição um pouco mais, pelos primeiros quatro a seis meses. É a fase pós-parto em que a mulher experimenta modificações físicas e (vamos destacar aqui) psíquicas.
E em relação a parte emocional, a Dra. também complementa que “a referência médica trata muito mais a questão física do que a parte psicológica. Isso é uma falha em nossa formação, que estamos buscando um novo olhar.”
Quais são as mudanças no corpo feminino, após o parto?
Uma gravidez “a termo” dura entre 37 a 42 semanas , vamos lá, 9 meses, porque até hoje não me acostumei com semanas e falo tudo em meses mesmo :)
Gastamos muita energia para produzir bracinhos, mãozinhas, mini-órgãos… isso cansa heim! Mas e depois? A adaptação do bebê ao mundo é complexa, cheia de desafios e novidades, mas a de um corpo que ficou “vazio” depois de se preparar tanto tempo, também é muito significativa. E a Dra. Dani menciona sobre esse processo:
Gestar, criar serumaninhos, parir, amamentar, cuidar do outro e de si mesma, é bem no estilo Girls Power.Tem quem prefere não ter essa trajetória no seu currículo da vida, tem quem passe por ela muito bem, com as duas mãos nas costas, e tem quem passe bem no estilo Joseph Climber, tipo eu.
E sobre as mudanças emocionais, que marcam tanto essa fase?
Assim como muitas outras mães no início da pandemia, eu, escritora dessa news, passei por um puerpério mais intenso, devido ao isolamento e do medo diante da falta de conhecimento, a nível mundial, do que estava acontecendo em relação ao Covid19.
O meu lugar de fala é de uma mãe que leu sobre maternidade, porém ainda se viu despreparada no puerpério, e acredito que isso é uma realidade para muitas mulheres diante do primeiro filho. Além disso, também me senti fora do padrão a partir do momento em que os primeiros 40 dias passaram, os primeiros quatro meses e depois seis, e eu ainda me via no mesmo lugar, onde eu não conseguia aproveitar de uma forma leve nem mesmo as fases de desenvolvimento da minha filha. E apenas quando ela estava com quase dois anos, busquei ajuda e descobri a depressão (embora ela provavelmente já era minha companheira antes disso, mas de uma forma mais discreta).
E sobre isso a Dra. destaca que “sinais como cansaço extremo, negligência com questões cotidianas (como tomar banho, comer, conversar com outras pessoas), tristeza profunda, sensação de incapacidade de cuidar do bebê e desinteresse por ele, são alertas de algo maior, como a depressão pós-parto”, o que reforça ainda mais a importância de não apenas mulheres e mães entenderem essa fase, mas também as pessoas ao redor, rede de apoio, que podem não apenas deixar esse processo mais leve, mas também de alguma forma identificar sinais importantes.
De acordo com a Dra. Dani, em relação a parte emocional nessa fase já há estudos referindo mudanças por até 3 anos, ou seja, não são mais os 40 dias ou seis meses, mas 3 anos. Com isso, destaca-se aqui não apenas o fato de não falarmos muito sobre o puerpério, mas também sobre o desenvolvimento recente da medicina em relação ao assunto.
Dica de milhões
A Dra. Dani finalizou a entrevista com uma dica para as mulheres passarem pelo puerpério de uma forma mais leve e, particularmente, eu gostaria de ter reforçado isso no início da minha maternidade, mas fica aqui para você que está ou passará em breve por esse momento ou que pode ajudar alguém próximo à você: “Primeira sugestão é que se preparem para o momento do pós-parto, elenquem uma rede de apoio, estabeleçam pessoas responsáveis por outras questões da casa. Segundo, é exposição à luz solar e contato com a natureza. E por último, estejam atentas aos sinais de alerta de que algo não está normal, peçam ajuda, não tenham medo de serem julgadas por ter dificuldade na adaptação do bebê, isso não é tão instintivo quanto as pessoas falam e não diminui em nada a sua maternidade.”
E complemento ainda com um texto também da Dra. Danielle, que foi para o dia das mulheres, mas um trecho que achei muito interessante:
Não há pressa pelo que nos espera quanto mães, quanto profissional, quanto mulheres. E é essa mensagem que eu gostaria de deixar, de um período que pode ser muito desafiador, assim como muitas outras fases na vida, mas um período em que também pode surgir uma mãe, uma mulher, mais forte. Buscar informação, ter e aceitar uma rede de apoio, desmistificar a maternidade perfeita, buscar e pedir ajuda, é o caminho para um maternar mais leve.