Não é nenhuma novidade que cada um tem seu tempo, seu processo, sua individualidade. E, no momento da criação de outro pequeno indivíduo, cada pessoa passa por uma experiência diferente, seja ela mais leve ou mais difícil, mas alguns marcos são predominantes, principalmente na parte do maternar.
Na semana passada participei de um papo para o podcast Dojo de Pais (que deve ir ao ar em breve) com a Larisse e a Suelen, uma grande amiga minha que, como disse a Lari: “Veio do futuro” (com duas filhas, uma de 6 e outra de 4 anos).
Falamos sobre a vida pós maternidade e uma parte da conversa se permeou ao redor do sentimento de culpa, que foi tema na última newsletter. Mas também falamos sobre a realidade da maternidade que vem, na mesma mala ou com um adicional de bagagem, as escolhas (ou, mais algumas delas): gestar, trabalhar, criar, estudar, viver socialmente, entre outras situações. É desafiador e cada mulher faz a sua de acordo com o momento, aprende com elas, erra, acerta e assim como tudo nessa vida. A questão é que o holofote parece estar bem mais direcionado para a mãe, independente da escolha tomada. Muito se fala e pouco se ajuda!
Avanços como licenças maternidade, paternidade, um local para deixar o filho próximo ao trabalho, entre outras iniciativas, são essenciais e precisam ser melhoradas cada vez mais. Mas, além disso, também precisamos discutir como facilitar as escolhas dessa pessoa que cuida, na maioria dos casos, a mãe. Aqui entra o papel da sociedade, não apenas com criação de políticas públicas, mas como parte da formação de uma criança e como ponte para mães, mulheres e minorias.
A Suelen, por exemplo, comentou sobre esse momento entre trabalho, maternidade e estudos, que é uma situação muito frequente e que, na maioria dos casos, a falta de empatia e apoio dificulta o processo de escolha. No caso dela, grávida da filha que iria nascer no último semestre do mestrado, com uma bolsa de estudos e dedicação em tempo integral, ela sabia que teriam disciplinas que não conseguiria concluir e, ao buscar alternativas, encontrou professores e um orientador compreensivos com esse momento; alguns deram aula particular para que ela adiantasse o conteúdo e pudesse concluir a matéria; outros permitiram que ela terminasse depois; ainda em licença maternidade, foi à universidade algumas vezes com a bebê para tirar dúvidas (e, é claro, são nesses horários que a criança acorda para mamar, enche a fralda e todos os demais cuidados básicos que um recém nascido demanda). Ela continuou com a bolsa de estudos, contando com uma rede de apoio (avós, amigos, marido) para finalizar o trabalho, se dedicando meio período do dia e, mesmo que de uma forma desafiadora, foi possível. A sociedade fez o seu papel, permitindo que essa escolha que era dela se tornasse de todos, ficasse um pouco mais leve. Depois desse período, outras escolhas surgiram, como a vontade de se dedicar à criação das filhas, agora duas, em tempo integral e, aos poucos, ela foi retomando alguns dos hábitos que gostava, estudos que queria continuar, diferentes escolhas em determinados momentos da vida.
Essa é a realidade da maioria das pessoas? Com certeza não. Ainda mais tratando-se de mulheres e acredito que o cenário seja ainda pior para mães solo. Mas é tão complicado assim facilitar um pouco os processos de escolha dessa fase, que por si só já traz tantos desafios?
A mulher não virá mãe e essa é a única função ou vontade dela para o resto da vida, embora seja a mais bela das funções. A Dra. Danielle Betina (inclusive teremos uma entrevista com ela aqui, em breve), ginecologista e obstetra, em uma das suas falas explicando sobre a pós maternidade no instagram, mencionou algo que guardei pra mim na época:
“…a mulher, a mãe não “morre” e vira outra pessoa quando o filho nasce, ela continua com os mesmo gostos, mas com novas características e novos objetivos… no início da maternidade talvez não seja possível fazer tudo o que era possível, que gostava de fazer ou da mesma forma. Assim como quando focamos em um determinado objetivo, como passar no vestibular por exemplo, e reduzimos ou não vamos mais à festas e sim focamos nos estudos; ou quando priorizamos a parte profissional e as coisas com a casa não são o foco naquele momento; a mesma coisa acontece com o início da maternidade, é uma nova etapa que precisa ser vivenciada e que outros objetivos não serão mais o foco daquele momento ou terão que ser pausados.”
Tudo (ou quase tudo) são escolhas e elas vão mudar em diferentes fases da vida de cada um, sem falar aqui nas pequenas escolhas diárias, mas tornar esse processo mais leve principalmente na maternidade pode ser uma tarefa talvez não muito complicada para quem está em volta e tem um reflexo gigante na vida de uma mãe e, consequentemente, na criação de pequenos serumaninhos.